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A Rodovia Subterrânea


Uma rede de rotas clandestinas que cruzava quase todo o território dos Estados Unidos. Seu único propósito: levar os escravos para a liberdade.


Não poderia haver um cenário que melhor caracterizaria um dos períodos mais bizarros e vergonhosos da história humana. Com o aumento do tráfego de escravo e as enormes quantidades de denúncias sobre maus tratos e mortes dos mesmos, havia uma necessidade de se estabelecer uma maneira de se retirar aqueles pobres coitados de maneira que pudesse desfrutar de suas vidas com mais dignidade. E que melhor maneira para se conseguir tal intento do que montar uma rodovia subterrânea?


A Underground Railroad foi uma rede se rotas secretas e esconderijos usados pelos escravos norte-americano com o objetivo de escapar para estados que já tinham o status de liberdade para os negros. Algumas dessas rotas chegavam a levar diretamente para o Canadá e contavam com a ajuda de abolicionistas (tanto pessoas brancas quanto negras) e outros tipos de aliados que eram simpáticos à causa. Outras rotas levavam para o México ou a portos que faziam com que os refugiados embarcassem para outros países e até outros continentes.


Havia também uma rota que passava pela Flórida, na época (lembremos que falamos do século XIX) era ainda um território espanhol, existia pelo menos desde o século XVII e foi usada até pouco depois da Revolução Americana. As demais rotas que foram agregadas, formando uma verdadeira teia sob o solo, foram acrescidas no começo do século XIX e alcançaram o ápice de sua utilização no período entre 1850 e 1860. Há estimativas que indicam que, por volta de 1850, cerca de 100 mil escravos teriam usados as diversas rotas. O Canadá, onde a escravidão era proibida, era um dos destinos mais populares, já que sua longa fronteira permitia a existência de diversos pontos de entrada.


Calcula-se que mais de 30 mil pessoas teriam usado as rotas durante um período de 20anos, embora o censo norte-americano acuse apenas seis mil. Alguns dos fugitivos tiveram suas histórias documentadas e por conta de sues relatos as conhecemos nos dias de hoje. Também é um ponto conhecido daqueles que adoram os famosos programas da TV por assinatura que mostram os profissionais que caçam fantasmas (como Ghost Hunters, do canal Syfy, e Minha História de Fantasma, do Bio) que, volta e meia, seguem supostas sombras e espíritos de usuários dos túneis que ainda estariam por lá.

Estrutura


Apesar do nome ser bastante sugestivo, a rede de fuga não era literalmente subterrânea ou mesmo uma ferrovia. Era “subterrânea” no sentindo de ser clandestina e usada para propósitos de resistência. O termo ferrovia vinha apenas do uso dessa palavra para designar uma rota de fuga. Assim, era possível encontrar durante o trajeto pontos de encontro, rotas secretas e esconderijos, além da assistência oferecida pelos simpatizantes. As pessoas eram organizadas em pequenos grupos independentes que eram mantidos em segredos com alguns membros que conheciam os locais como sendo partes da “ferrovia” e que muitas vezes agiam como guias no longo trajeto para a liberdade.


Os escravos que conseguiam fugir iam para o norte numa rota que seguia de uma estação para outra e com eles iam “condutores”, que incluíam negros nascidos livres ex-escravos (tanto fugitivos quanto alforriados) e até índios. As igrejas ofereciam ajuda, em especial os Quakers, congregacionistas e presbiterianos reformados das igrejas metodista e batista. Sem a presença e apoio de membros negros, não haveria chance daqueles que procuravam fugir conseguirem chegar até a tão almejada liberdade.


Para reduzir o risco de infiltração, muitos associados à ferrovia sabiam apenas seu principal papel na operação e não no esquema completo. Havia os “condutores”, que asseguravam que os refugiados chegassem até a próxima etapa da jornada. Esse “condutor” às vezes fingia ser um escravo para poder entrar numa plantação. Uma vez lá, ele direcionava os refugiados para o norte. Os escravos viajavam à noite e percorriam cerca de 15 a 30 quilômetros entre cada etapa do percurso. Paravam nas “estações” durante o dia para descansar. Esses locais eram lugares pouco usados como celeiros. Enquanto descansavam, uma mensagem era enviada para a próxima “estação” para que o encarregado de lá soubesse que logo receberia mais um grupo de fugitivos.


Os pontos de descanso eram onde os fugitivos dormiam e comiam graças a um sistema de códigos dados pelos “mestres de estações”. Havia também os “acionistas” que davam dinheiro e suprimentos. Usavam referências retiradas da Bíblia para se referir aos objetivos de sua viagem; assim, o Canadá era chamado apenas de Terra Prometida, enquanto o rio Ohio era o Rio Jordão, que marcava a fronteira entre os estados escravagistas e os livres.


Funcionamento

O site How Stuff Works traz em sua edição em inglês uma explicação bem concisa sobre a maneira como a ferrovia funcionava. Vamos dar uma olhada no trecho reproduzido abaixo:


“Por causa da natureza secreta da Underground Railroad , suas origens exatas são difíceis de rastrear. Existem muitas teorias sobre como tudo começou , mas há algumas respostas. Seus organizadores não poderia exatamente colocar a situação em aberto por meio de anúncios em seus jornais locais. O fato de que o sistema ferroviário real não ter sido inventado até a década de 1820 dá-nos algumas pistas sobre o sincronismo - se houve um sistema de fuga antes disso , provavelmente não foi chamado assim. No início de 1800 , os fugitivos confiavam na ajuda espontânea de estranhos. Na década de 1820 , os grupos anti -escravidão estavam começando a se formar, e na década de 1840 , havia uma rede organizada que ajudou os escravos fugitivos”.


Segundo o site cada viagem na ferrovia era feita de uma maneira diferente, embora hoje em dia, com a ajuda dos estudos feitos pelos historiadores, pode-se ter uma ideia mais precisa. Em meados de 1800, no auge de seu funcionamento), os negros livre usavam “agentes de campo” (muitas vezes um pastor itinerante ou médico que se fazia passar como vendedor ou ainda um recenseador) para fazer contato com um escravo que estivesse com condições de fugir ou ainda que manifestasse esse desejo de alguma forma discreta. O agente arranjava a fuga para que ela passasse pelas plantações e, depois, entregava os fugitivos para que se preparassem para a primeira etapa da viagem.


O “condutor” guiava o fugitivo até a primeira estação, que em geral era uma casa que ficava localizada estrategicamente ao longo do percurso (em muitas ocasiões foram usadas senzalas). As estações tinham um chefe, também conhecido como chefe de família, que tinha a responsabilidade de manter o escravo seguro. Essas casas muitas vezes possuíam passagens secretas e compartimentos em alguns pontos onde os fugitivos ficavam escondidos quando algum grupo estranho chegava nas imediações como autoridades.


O texto do How Stuff Works continua a descrição assim:

“Na estação, o fugitivo seriam alimentado , abrigado e possivelmente receberia um disfarce, que poderia ser tão simples quanto um ancinho (assim o fugitivo poderia se passar por um trabalhador itinerante). Porém o mais comum era vestir a pessoa como um membro do sexo oposto. Em sua obra, Wilbur H. Siebert (autor de The Underground Railroad) conta a história de um fugitivo, disfarçado como uma mulher branca de classe alta, que chegou a receber um bebê branco como parte de seu disfarce. Todas essas atividades eram financiadas por pessoas conhecidas como acionistas , que muitas vezes davam seu dinheiro para ser usado em subornos e quaisquer outras despesas. Os fugitivos em geral não viajavam sozinhos - os condutores normalmente os guiavam para a próxima estações . Às vezes, porém , por causa da falta de pessoal ou trajetos muito curtos, o escravo fugitivo não tinha companhia. Assim, teria que passar a noite seguindo a Estrela do Norte e se escondem durante o dia”.


A Chegada à Terra Prometida

Quantos dos refugiados conseguiram chegar de fato à “Terra Prometida”? As estimativas variam muito , mas calcula-se que pelo menos 30 mil escravos, e, potencialmente, mais de 100 mil outros, fugiram para o Canadá usando a Ferrovia. O maior grupo estabeleceu-se em na parte do Canadá conhecida como Canada West a partir de 1841, que hoje é referida como Ontário do Sul ) , onde há numerosas comunidades negras na região delimitada por Toronto, as Cataratas do Niagara e Windsor. Cerca de mil refugiados instalaram-se em Toronto e em várias aldeias rurais, compostas principalmente de ex-escravos, estabelecidas em Kent e Essex.


Outro centro importante para esse tipo de população foi a Nova Escócia e regiões próximas a Halifax. Há assentamentos negros importantes em outras partes da região antes conhecida como América do Norte Britânica (hoje parte do Canadá), incluindo o Baixo Canadá (atual Quebec) e a Ilha de Vancouver, onde o governador James Douglas (1803-1877) incentivou a imigração negra graças à sua própria oposição à escravidão e porque esperava que uma comunidade negra significativa formaria uma frente forte que batesse contra aqueles que queriam unir a ilha com os Estados Unidos.


As Localidades Usadas

Muitas eram as estações que participavam da Ferrovia Subterrânea. A lista abaixo traz algumas dessas localidades, algumas famosas hoje por ser o ponto de visita de turistas e de caça-fantasmas.

  • Albany, Nova York

  • Sinagoga Bialystoker

  • Boston, Massachusetts

  • Broderick Park

  • Buffalo, Nova York

  • Propriedade Burkle, Tennessee

  • Burlington, Wisconsin

  • Charlemont, Massachusetts

  • Chatham–Kent, Ontario

  • Chicago, Illinois

  • Cincinnati, Iowa

  • Cincinnati, Ohio

  • Clearfield County, Pensilvania

  • Crystal Park, Pensilvania

  • Fazenda Cyrus Gates

  • Detroit, Michigan

  • Dresden, Ontario

  • Elmira, Nova York

  • Farmington, Connecticut

  • Galesburg, Illinois

  • Gowanda, Nova York

  • Granville, Ohio

  • Grinnell, Iowa

  • Halifax, Nova Escócia

  • Ironton, Ohio

  • Jacksonville, Illinois

  • Jersey City, Nova Jersei

  • Jerseyville, Illinois

  • Lawnside, Nova Jersei

  • Lewis, Iowa

  • Lewiston, Nova York

  • Mayhew Cabin

  • Milton, Wisconsin

  • Nebraska City, Nebraska

  • Nova Albânia, Indiana

  • Oberlin College, Oberlin, Ohio

  • Oberlin, Ohio

  • Owen Sound, Ontario

  • Filadélfia, Pensilvania

  • Pickering, Ontario

  • Portsmouth, Ohio

  • Ripley, Ohio

  • Rochester, Nova York

  • Salem, Ohio

  • Sandusky, Ohio

  • Sandy Ground, Staten Island, Nova York

  • St. Catharines, Ontario

  • Springboro, Ohio

  • Syracuse, Nova York

  • Toronto, Ontario

  • Troy, Nova York

  • Union City, Michigan

  • Uniontown, Pensilvania

  • Vandalia, Michigan

  • Wabaunsee County, Kansas

  • Westfield, Indiana

  • West Nyack, Nova York

  • Wilmington, Delaware

  • Windsor, Ontario

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