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Otto Rahn, Seitas e o Santo Graal


A maioria das figuras históricas ligadas ao movimento nazista não passa, hoje, de uma pálida lembrança da importância que tiveram em suas épocas. Uma exceção pode ser feita com o escritor e pesquisador Otto Rhan


Especialista em época medieval e membro das SS, este que seria uma das figuras mais fascinantes e ao mesmo tempo independentes do movimento nazi nasceu em 1904 em Michelstadt, no sudoeste da Alemanha.

Ainda hoje há muita especulação sobre as pesquisas que Rhan conduzia, principalmente devido às circunstâncias misteriosas que rodeiam sua morte, em 1939. O que se sabe de concreto é que ele tinha um grande fascínio em particular pelas lendas de Parsifal, do Santo Graal, Lohengrin (descrito como filho de Parsifal) e pela saga dos Nibelungos.

Enquanto frequentava a Universidade de Geissen, na Alemanha, foi inspirado por seu professor, o barão Von Gall, ligado ao movimento herético chamado catarismo (sobre o qual falaremos mais para frente) e passou a se interessar pelo massacre ocorrido em Montsegur. Esse interesse era tanto que o pesquisador sempre teria afirmado que o assunto o havia cativado por completo. Toda a extensão de seu trabalho pode ser encontrada em dois livros que ele escreveu sobre o assunto: Cruzada Contra o Graal e A Corte de Lúcifer na Europa.

Rahn era considerado em sua época “um especialista de grande futuro” e que, como pode ser visto em seu livro sobre o assunto, afirmava que o Graal estava mesmo em Montesgur (que equivaleria ao Montsalvat ou Mont du Salut, conforme designações nas lendas do ciclo do Rei Arthur) e que os verdadeiros guardiões dessa peça seriam mesmo os cátaros. Em 1931 ele passou cerca de três meses na região e só voltou para lá em 1937, depois que Cruzada Contra o Graal foi editado.


Pesquisas

Rahn acreditava haver uma ligação direta entre a obra de Von Eschenbach, Parsifal, e os cátaros. Estes teriam colocado algumas pistas para a solução desse mistério dentro de uma caverna, mais especificamente na Gruta de Lombrives, no sul dos Pirineus (há até uma foto dele na gruta no livro de Angebert). Essa gruta, conhecida como “Catedral de Lombrives”, foi o local onde, após a queda de Montsegur, um bispo Cátaro, um Perfeito chamado Amiel Aicard, tomou como sua moradia. Aicard teria recebido ordens para deixar a fortaleza sitiada durante a noite da rendição em 1244, levando consigo o “Tesouro dos Cátaros". Outro possível local de esconderijo do Graal teria sido o próprio castelo de Montsegur, onde ele também investigou.

Rahn acreditava também ser possível rastrear uma espécie de “descendência tradicional” que ligaria os cátaros aos druidas convertidos ao gnosticismo maniqueísta. Ele via nos restos da cultura encontrados em Montsegur fortes semelhanças com a cultura celta.

Todas essas idéias tornaram-se comuns e aceitas por aqueles que investigaram o passado cátaro e as relações entre estes e os Templários. Para muitos pesquisadores modernos foi Otto Rhan quem se tornou responsável pela complexidade mitológica que associa os Cátaros e Montsegur com o Santo Graal e seu mítico castelo.

Para Rhan os cátaros teriam sido os verdadeiros guardiões do Santo Graal e que, escondidos nos romances medievais sobre o assunto está a essência do catarismo. A Busca pelo Graal seria, então, uma representação simbólica da iniciação cátara e o Graal em si, um símbolo da Tradição Secreta dos Cátaros.

Em 1931 Rahn fez explorações extensivas nas grutas da área sul de Montsegur, principalmente em Ornoloac (cujo registro fotográfico também se encontra no livro de Angebert) e Lombrives. Nessa época foi descrito pelos habitantes locais como “um eterno adolescente com uma paixão sobre-humana pelo Graal e pela Tradição Hermética”. Nas grutas de Sabarthes ele encontrou câmeras nas quais as paredes estavam cobertas de símbolos característicos dos Templários, o que confirmava sua teoria de que os cavaleiros do templo e os cátaros tiveram ligações fortes no passado. Um desses desenhos, que mostrava uma lança, seria uma prova de que a lança que sangrava dos mitos arthurianos também era conhecida pelos que fizeram tais marcas.

Ao retornar para a Alemanha em setembro de 1932 e publicar Cruzada Contra o Graal, Rhan tornou públicas suas teorias de que Não só os personagens de Parsifal eram moldados em pessoas reais como o próprio personagem-título seria um cátaro de Carcassone, uma das vítimas da Cruzada Albigense. O eremita Trevrizent seria o Bispo cátaro Guilhabert de Castres, o rei Anfortas, Raimundo-Rogerio de Foix e Montsegur, Montsalvage. Como este castelo era protegido, pela história, por uma fonte, Rahn também identificou a referência como sendo a fonte intermitente de Fontestorbes, localizada a alguns quilômetros do Pog (ou seja, do rochedo) onde fica o último bastião cátaro. Também afirmou que a floresta que ficava ao redor de Montsavage era chamada “Briciljan” e que o Bosque de Priscilien (que tem a mesma pronúncia) é próxima a Montsegur.

Foi pouco depois da publicação de sue livro que Heinrich Himmler se interessou por Rahn e o convenceu a seu unir às SS. Inicialmente membro da Ahnenerbe, Rahn logo teve seus talentos reconhecidos por seus superiores e logo se tornou um membro das SS. Um amigo íntimo, Paul Ladame, sempre insistiu que ele se uniu porque não havia opção. Para ele, Otto era apenas um pesquisador sem nenhuma tendência a ser racista ou mesmo nazi. Assim, quando Himmler ofereceu-lhe um salário e liberdade de conduzir suas próprias pesquisas Rhan aceitou porque, caso contrário, teria sido preso.

Correm rumores de que Rahn teria fundado um círculo neocátaro dentro das SS. Em setembro de 1935 escreveu com grande excitação para seu chefe da Ahnenerbe sobre os lugares visitados em sua busca por tradições ligadas ao Graal na Alemanha e pediu sigilo completo sobre o assunto.


O Santo Graal

A ideia do Graal foi apresentado em várias narrativas principalmente medievais de várias formas: uma taça, um cálice, um caldeirão de abundância, uma relíquia ligada ao Sangue de Cristo, um copo, uma cuia, uma travessa de prata, um prato, uma pedra do céu (um meteoro), uma espada, uma lança, um peixe, um livro, o maná, uma cabeça decepada (eco dos templários?), uma mesa, um arpão, um pombo com uma hóstia no bico, um evangelho secreto, uma luz resplandecente, uma lança branca que sangra, entre outras. Por exemplo, para Chrétien de Troyes, um dos primeiros a contar a história da busca pelo Graal, Le Conte Du Graal, este é uma travessa que carrega uma única hóstia da Eucaristia. Em outra obra, Queste Del Saint Graal, é o prato onde Jesus comeu o cordeiro da Páscoa, que contém as hóstias. Em Perlesvaus, obra de autoria anônima, há pelo menos cinco formas diferentes do objeto.

Há, claro, a versão oficial para o Graal, segundo o Vaticano. Este estaria na Catedral de Valença, na Espanha. Porém o título do verdadeiro Graal tem seus concorrentes, em países tão diversos quanto suas formas. Há uma vasilha de madeira encontrada no País de Gales, um cálice de vidro em Gênova, na Itália, e até um vaso que estaria escondido dentro da famosa Coluna do Aprendiz, na Capela de Rosslyn, na Escócia. A famosa Capela, inclusive, é apontada pelo escritor Andrew Sinclair como um testemunho em pedra de possíveis feitos notáveis dos Templários, que teriam estado no Novo Continente (a América) anos antes de Cristóvão Colombo e para lá levado o Santo Graal para um esconderijo indeterminado. De fato, é possível ver na capela relevos que retratam o milho, planta desconhecida na Europa na época dos Templários.

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