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O Tesouro dos Cátaros


Seriam mesmo os participantes da seita conhecida como Albigenses os guardiões do Santo Graal ou eles tinham tesouros ainda mais valiosos em sua posse?


Pela mitologia dos caçadores de tesouros o Santo Graal sempre estará ligado a dois grupos religiosos que tem sua existência comprovada historicamente: os Cavaleiros Templários e os Cátaros ou Albigenses. Enquanto muito já foi falado sobre os primeiros, quase nada se sabe sobre o segundo. Fontes históricas francesas sugerem (sem nenhuma prova) que o Santo Graal teria passado das mãos dos Templários para a dos Cátaros e que teria sido levado para local desconhecido quando do cerco de sua fortaleza Montségur, em 1224.

A palavra cátaro vem do grego katarós, que significa “puro”. Também ficaram conhecidos por albigenses, pois se concentrariam mais na cidade de Albi, tida como um dos grandes centros de influência herética no sul da França. Floresceram no século XII, um período em que, por causa das cruzadas e do constante fluxo de pessoas entre a Europa e a Terra Santa, os contatos entre Oriente e Ocidente eram tais que muitas idéias e filosofias foram trazidas de terras distantes e ganharam adeptos europeus. Era uma época em que as cruzadas estavam no auge e os mercadores traziam essas idéias junto com suas mercadorias.

Uma delas, que deu origem ao catarismo, era o maniqueísmo, religião de origem persa, que deve o seu nome ao lendário Manés (ou Manion Manique, 215-276), da Babilônia, que teria vivido nos primeiros séculos da nossa era, talvez no século III. Mane, que se dizia "filho da luz", seguia os ensinamentos de Zoroastro e defendia uma reforma religiosa que procurasse a transcendência e a libertação das ilusões da vida terrena e corpórea. O maniqueísmo conquistou a atenção de homens como Santo Agostinho. Um de seus mais famosos discípulos foi Madek (do século VI), que afirmava que todo o mal do mundo era causado pelo desejo de posse de fortuna e mulheres.

O medo das represálias da Igreja fez com que os cátaros mantivessem seus credos em silêncio. Porém a popularização do movimento atraiu tanta gente que os seguidores passaram a agir abertamente, já que dispunham da proteção de senhores feudais. Não demorou muito para o catarismo e outro movimento ligeiramente semelhante, chamado de valdensianismo (criado em Lion por Pedro Valdo em 1176) se tornassem as religiões predominantes do Languedoc.

Para os cátaros, a humanidade tinha sido moldada pelo demônio. Para um cátaro alcançar a salvação era necessário conhecer o verdadeiro destino e origem da humanidade e só poderia obter isso por meio da renúncia do mundo satânico da carne e levando uma vida de abstinência e pobreza. Assim, o homem, que foi criado por Deus (o lado bom) é prisioneiro da matéria. Esta, que foi criada por Satã (identificado como Javé), está presa ao mundo. O dualismo, herdado do maniqueísmo, é a luta da carne contra o espírito. Assim, para nos salvar, Jesus (que seria um anjo) teria se revestido de um “corpo aparente” (algo ilusório) para que pudesse transmitir-nos a maneira de obter essa libertação. A salvação, neste caso, seria “a libertação das parcelas de luz perdidas nas trevas do corpo”. Acreditavam na reencarnação: se alguém falhasse nesta vida, teria uma próxima chance de conseguir seu intento. A cruz de Cristo, para eles, era um símbolo falso, pois não teria havido uma morte real (física), já que Jesus era um ser espiritual.

Seu serviço eclesiástico era composto de uma leitura do evangelho, um breve sermão, uma bênção e a Oração do Senhor. Podia ser feito em qualquer lugar. Essa abordagem simples da liturgia teria, segundo alguns estudiosos, antecipado a simplicidade de seitas protestantes de épocas posteriores.


Organização da Igreja Cátara

Pouco se sabe sobre como os cátaros se organizavam. O pouco que conseguiu chegar até nós dá uma idéia até certo ponto vaga, mas consistente. Tinha duas classes ou graus. A primeira, que englobava os leigos, era conhecida com o nome de crentes ou auditores. A segunda era composta pelos perfeitos ou eleitos, que enfrentavam um período de prova de dois anos.

Os crentes tinham regras para fazer seu jejum e não podiam comer carne, ovos ou leite. A principal obrigação desta casta era adorar e alimentar os perfeitos. Os crentes jamais poderiam aspirar ascender à casta dos perfeitos, considerados de alto nível. No leito de morte podiam receber o consolamentum (batismo espiritual), que combinava características de batismo, confirmação e ordenação. Caso não morresse, era colocado em regime de fome.

Os perfeitos tornavam-se membros desta casta depois do período anterior mencionado, no qual renunciavam a todos os bens terrenos e viviam comunalmente com outros da mesma classe. Evitavam as tentações da carne isolando-se completamente do convívio com o sexo oposto, além de fazer voto para nunca dormirem nús. Eram completamente contra a união sexual, pois perpetuava a vida e aprisionava mais um espírito no mundo espúrio material. Praticavam o jejum absoluto três vezes por ano, condenavam o serviço militar e tinham o suicídio como ideal de santidade, sendo sua forma mais perfeita a endura, onde passavam fome até morrer.


Neocatarismo

Enquanto isso, nos dias de hoje, cresce e floresce de maneira discretas o chamado movimento neocátaro no mesmo Languedoc que viu o martírio dos cátaros originais.

Jules Doinel nasceu em 1842 em Moulins, no Allier, e é o principal nome ligado a um movimento neocátaro surgido no final do século passado na França. A sua carreira de arquivista e paleógrafo iniciou-se nos Archives du Cantal, e posteriormente na Biblioteca de Loiret. Foi nesta última que encontrou algo que mudou a sua vida: uma carta com a assinatura de um chanceler episcopal, de nome Etienne, queimado em 1022, em Orleans, por heresia. Esta carta apresentou a Doinel o grupo sectário do qual o chanceler fazia parte: uma seita de “popelicanos”, composta por homens e mulheres de forma indistinta, estabelecida na diocese de Orleans no século XI.

Em 1189 Doinel criou uma igreja neognóstica, da qual foi, durante muitos anos, o patriarca, com o nome adotado de Valentino II e os títulos de Bispo de Montségur. Em 1890 ele reorganizou a igreja, declarou aquele ano como o “ano I da restauração da gnose” e restabeleceu os sacramentos bases de catarismo: o Consolamentum, a Quebra do Pão e a Penitência. Estabelece a hierarquia da sua igreja através da nomeação de onze bispos (com uma mulher, Sofia de Varsóvia, e uma série de diáconos de ambos os sexos). É também instituída Ordem do Paracleto, em honra dos mártires cátaros mortos na Cruzada Albigense.

Embora Doinel tenha abandonado seu posto em 1894, a igreja neocátara continuou até a metade da II Guerra Mundial. Terminaria com um homem chamado Chevillon, que acumulava a liderança do movimento neocátaro com os títulos de Grão-Mestre da Ordem Martinista e Grão-Mestre do Rito de Misraïm, ou do Egito. Em 1941 a polícia do governo colaboracionista de Vichy ordenou a prisão de Chevillon e apreensão dos documentos encontrados na sede de Lion.


O Fim

Fontes acadêmicas dizem que, pouco antes do cerco final, em 1244, foi erguida uma trégua para que pudessem se preparar para seu destino. Assim um grupo de cátaros (algumas versões dizem que seriam apenas quatro) teria descido as enormes muralhas de Montségur para transportar seu fabuloso tesouro. Estes quatro, segundo relatos da Inquisição, fugiram para as montanhas levando consigo “certos objetos”. A lenda complementa: quando o Graal estava escondido em lugar seguro, os cátaros fizeram seu sacrifício final.

Para João Ribeiro Júnior o Santo Graal poderia estar entre o tesouro cátaro. Há quem diga, como o historiador Andrew Sinclair, que o Graal pode ter saído da fortaleza cátara para ir parar nos subterrâneos da Capela Rosslyn, na Escócia. Há outros autores que afirmam que o Graal pode estar em qualquer lugar do Languedoc, inclusive em Rennes-le-Chateau.

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